TODAS AS NOITES SÃO IGUAIS
Confesso que tenho um certo preconceito em relação aos homens que conheço na balada. Não sei se sempre fui assim, mas hoje, eu sinto-me em vitrine viva, onde figurinhas carimbadas tornam-se peças encalhadas de uma grande ponta de estoque.
Sábado à noite, três aniversários, balada pesada, gente animada, liquido “embelezante” em abundancia, boas risadas, fotos e algumas histórias.
Logo na balsa, Shania Twain no talo, “Let’s go, girls”? A motorista, que podemos identificar como a narradora, resolveu sentar no banco de passageiro esperando que o carro andasse sozinho! Claro, que toda turma tem uma amiga descente que não bebe pra salvar a Pátria, e por sorte minha e azar da amiga, esta tinha resolvido sair naquela noite pra exorcizar a tristeza pelo fim de sua história de amor (acho que é por isso que dizem que Deus escreve certo por linhas tortas)!
Estacionado o carro, há certo espanto dos demais em relação ao volume da minha voz. Imperceptível pra mim, mas bem notável aos tímpanos alheios (bebidas alcoólicas normalmente causam-me certa surdes). Como quem tem amigos, jamais está sozinho, alguns resolveram respeitar o momento "gralha”, enquanto que os demais, ou debandaram ou aderiram ao movimento.
Adentro o recinto, animada, feliz e alguns minutos depois, já no camarote, descubro que sou uma grande fã do funk, axé e pagode, pois minha desenvoltura corporal tem uma melhora de 75% e eu sou praticamente a ruiva do Tchan (sem a mesma bunda, remelexo e cabelos esvoaçantes, claro!!).
E no meio de tanta gente eu encontrei vocêeeeeeeeeeeeeeeeeee!!! Sim, a bola da vez, que certamente pensa que eu sou "A Meretriz Balzaquiana", já que resolvi dar uma de mulher fatal e desencanada, dividindo com ele meus pensamentos mais íntimos!! (só o chamei de prostituto! Ele não precisa saber que pensei nele antes de dormir algumas noites, que sou romântica, fiel, amiga, carinhosa e sincera!!)
Os próximos minutos seguiram sem muitas complicações, exceto por um copo de whisky derrubado, uma pisada no pé da menina "mala", dois copos de caipiroska e o início de um diálogo com um rapaz simpático e falante:
- Qual o seu nome?
- Heeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeein?
- Seu nome! (gritando)
- Ah! É Layla!!!! E o seu??
- Heeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeein?
- Seu nome! (gritando)
- Ah! É Layla!!!! E o seu??
- Lucas (Na verdade eu não me lembro!!!)
- Ah!! Legal!!! Ai meeeeu, vamos descer? Muito barulho aqui, não te entendo!!!
- Claro!!!
Descemos, sentamos e eu senti-me no cenário de Alice no País das Maravilhas onde vários objetos dançantes, mostravam sua personalidade e vida própria.
- Então, eu sou médico, trabalho na zazaza, tenho ampla xperiência em...zazazazaza
- É?? Ah!
- É?? Ah!
Enquanto isso, a mistura de todas aquelas bebidas fermentava na minha goela, em uma busca insana para explorar o mundo exterior.
- Eu adoro filmes de arte, aliás, ia assistir um hoje, mas meu amigo me...
- Fantástico!!! Eu gosto também! Mas o que você faz? Conta!!
- VOU PEGAR UMA COCA!!!
- Fantástico!!! Eu gosto também! Mas o que você faz? Conta!!
- VOU PEGAR UMA COCA!!!
Infelizmente, a maldita vodca não cessava em falar comigo, e o primeiro gole de coca foi tudo o que precisava para dar-lhe a tão esperada alforria. Corri pro banheiro, colori a cerâmica enquanto aquele líquido viscoso e nojento celebrava sua liberdade!
Sentia-me mais leve, entretanto, o mundo ainda dançava ao meu redor e o menino, ai, o menino, coitado!!! Ele resolveu tentar o golpe de misericórdia, enquanto eu pensava com meus botões: “estou levemente embriagada e este menino vai me zoar! Que espécie de cara fica com uma menina que acabou de vomitar??? Bla, bla, bla. blá”. Mas a negociação perdeu seu ritmo, pois ele me puxou pela mão pra falar com a dupla com quem completava um distinto trio! Claro que tudo na minha vida é uma grande piada e ele havia ido com ninguém menos que o personagem descrito no parágrafo acima.
Neste momento, minha mente deturpada e insana começa a articular uma pequena grande vingança por aquele ato malvado do destino (ou sacanagem de filho da puta de turma). Fiz o cara cuidar de mim quase que o resto da noite inteira sem sequer dar-lhe um beijo no rosto, exceto na hora da despedida, e foi tudo o que ele recebeu de salário por passar parte de seu tempo na balada tentando ficar com uma mulher fora de eu juízo real.
Acho que o menino desencanou, eu desencanei, relaxei e terminei minha noite em um carrinho de pastel, comendo pão com carne moída! O sol já brilhava e tive que dirigir de óculos escuros pra não ferir os olhos, levemente acostumados com o breu da noite, e ninguém ver que eu tinha lápis e sombra nos olhos ao dar de cara com minha mãe se preparando pra ir à missa.
O menino pegou meu telefone, mas não me ligou para sairmos. Sinto-me mais aliviada, já que além de ter um saldo negativo de anos em relação a mim, se não me engano, ele tinha espinhas no rosto.
Estava refletindo e não sei qual foi o momento exato em que perdi a credibilidade nos baladeiros de plantão, mas eu creio que é bem certo que são atitudes como a que tive neste final de semana, que fazem os meninos perderem a crença nas meninas...que pena!!
Moral da história: de hoje em diante, só vão furar suco de limão sem açúcar na minha comanda! Pois este é bom, barato, dietético e não causa alucinações de objetos que dançam!!!!
NOTA DA AUTORA: NÃO ESTRANHE SE LER ESTA CRÔNICA E IDENTIFICAR-SE COM ALGUM DOS PERSONAGENS, AFINAL DE CONTAS, TODA FICÇÃO, TEM UM FUNDO DE VERDADE. PORÉM, IMPORTANTE RESSALTAR QUE AS SITUAÇÕES FORAM AUMENTADAS.
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